As mudanças climáticas têm trazido elevação de temperatura, ampliando a demanda da planta de soja por água. A tendência é de secas mais frequentes e de chuvas torrenciais em maior intensidade, ou seja, com distribuição deficitária ao longo da safra. O alerta é dado pelo pesquisador da Embrapa Soja José Renato Bouças Farias, que destaca estratégias de mitigação para atenuar o impacto da seca.
Segundo ele, para produção agrícola, além de volume de chuva adequado, é necessário boa distribuição ao longo do ciclo. “Quando chove muito e o solo não está preparado para a descarga de água, perde-se água e solo por escorrimento, causando erosão”, explica.
Atualmente, mais de 95% da soja brasileira é cultivada em regime de sequeiro (sem irrigação). Desta forma, a necessidade de água pela planta durante a floração e o enchimento de grãos é de cerca de oito milímetros por dia. “Essa exigência pode ser maior ou menor em função da temperatura. Se a temperatura sobe, a planta precisa de mais água”, detalha Farias.
Aproximadamente 90% do peso da planta de soja é formado por água, que desempenha inúmeras funções como reagente (na hidrólise) solvente (permite que gases, minerais e outros componentes entrem nas células e caminhem pela planta), e turgescência, por exemplo. “A água tem, ainda, papel importante no balanço energético da planta, ou seja, na manutenção e na distribuição do calor”, ressalta o pesquisador da Embrapa, Norman Neumaier.
A soja melhor se adapta a temperaturas do ar entre 20°C e 30ºC e a temperatura ideal para seu crescimento e desenvolvimento está em torno de 30°C. O pesquisador explica que a necessidade de água na cultura da soja, para obtenção do máximo de produtividade, varia entre 450 a 800 mm/ciclo, dependendo das condições climáticas e de solo, do manejo da cultura e da duração do ciclo.
Segundo Neumaier, todo o desenvolvimento da planta é afetado pela disponibilidade de água. A semente de soja necessita absorver, no mínimo, 50% de seu peso em água para assegurar boa germinação.
Para atenuar o impacto da seca, José Renato Bouças Farias cita, por exemplo, o ajuste fitotécnico das cultivares por meio da adoção de variedades adaptadas para cada região, com diferentes ciclos e semeadas, de forma escalonada, para aumentar as chances de escape das lavouras em relação à incidência de veranicos na fase de enchimento de grãos. “Chamamos de estratégia de escape para reduzir os prejuízos, porque se você planta a mesma cultivar em toda a lavoura e não escalona a semeadura é mais difícil diluir os riscos, se houver algum problema climático”, explica Farias
O pesquisador também diz ser preciso ficar atento à definição de épocas de semeadura com menor risco de ocorrência de falta de água de acordo com o Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc) e o desenvolvimento de cultivares mais tolerantes à seca.