A agenda contra as mudanças climáticas deve ganhar mais destaque no âmbito internacional daqui para frente. Com isso, o etanol brasileiro deve ganhar espaço no mercado externo devido ao seu potencial de reduzir em até 90% as emissões de gases causadores do efeito estufa.
O presidente da União Nacional do Etanol de Milho (Unem), Guilherme Nolasco, diz que conversou com produtores norte-americanos e com representantes dos Estados Unidos que estão temerosos com o crescimento do setor no Brasil.
A posição da entidade diante disso foi defender a criação de uma agenda global do etanol, para que se amplie a participação desse biocombustível em diversos países importantes, como Índia e China, de forma a não faltar demanda para ninguém.
“O Biden, com o poder que os Estados Unidos têm de comércio internacional, pode abrir uma grande oportunidade, e podemos pegar carona nisso. Na hora em que ele inibe a perfuração de novos poços de petróleo e sinaliza para os biocombustíveis, usando subsídios, é uma cesta super bacana para o setor”, defende.
Além do etanol produzido a partir de cana-de-açúcar, há também o biocombustível produzido a partir do milho. Nolasco afirma que desde que o setor começou a se organizar, a ideia era “surfar na onda da economia verde”, sendo um biocombustível que mitiga mais de 70% dos gases do efeito estufa em relação à gasolina.
Foto: Unem
Segundo ele, a produção brasileira tem um outro diferencial que beneficia o meio ambiente: o fato de o milho usado como matéria-prima ser produzido como segunda safra. “Isso requer menos queima de combustível e tratos culturais, com aproveitamento da primeira cultura. Esse é outro ativo ambiental”, afirma Nolasco.
Outro ponto é que durante a produção do etanol de milho é gerado um subproduto, o DDG. Nolasco diz que a produção desse insumo para a alimentação de animais pode otimizar a engorda de gado em tempo e espaço, o que também faria bem ao meio ambiente, liberando áreas de pasto para lavouras ou florestas. “Isso inibe o avanço da agricultura em novas áreas”, explica.
Além disso, para funcionar, a usina precisa de cavaco de madeira. Assim, é esperado que sejam plantadas florestas para abastecer energeticamente a indústria, sendo que o excedente da energia elétrica gerada pode ir para o sistema nacional de distribuição.
Usina de etanol de milho ALD-Bio, em Nova Marilândia (MT). Foto: Unem/divulgação
Nolasco acredita que a economia verde será benéfica também para os produtos, que podem se aproveitar da demanda de investidores por créditos de carbono, os CBios implementados pelo RenovaBio, para financiar a construção de novas plantas ou a expansão das usinas que já existem. “Isso é muito importante para nós”, frisa.
Segundo a Unem, a produção de etanol de milho saltou de 141,29 milhões na safra 2015/2016 para 2,65 bilhões de litros previstos nesta temporada. Até o ciclo 2027/2028, a entidade acredita que o volume chegará a 8 bilhões de litros, crescimento de 200% em relação ao esperado para a temporada atual.
“Esse crescimento está relacionado ao aumento no número de usinas. A gente vem aí todo ano aumentando operações. A safra 2021/2022 se dará mais baseada na ampliação na capacidade de produção de indústrias já existentes. Todo o setor já vem trabalhando no máximo de sua capacidade. Não tem safra e entressafra, a produção é linear, com 10 a 15 dias de período de manutenção”, conta.
Atualmente, há 17 usinas que trabalham com etanol de milho no Brasil, entre plantas flex (que também produzem o biocombustível a partir da cana-de-açúcar) e full (que só trabalham com o cereal). Quinze delas estão no Centro-Oeste — 10 em Mato Grosso e 5 em Goiás —, respondendo por 99% da produção, segundo a Unem. São Paulo e Paraná têm uma plantada cada, mas com produções bem menores.
De acordo com Nolasco, são abertas em média duas ou três novas usinas de etanol de milho por ano. Em 2021, a previsão é de apenas uma, por enquanto. “Tivemos um ponto de atenção de 2020 [com a pandemia e os reflexos na economia] então deve ter um buraco agora em 2021, que será suprido pelas ampliações em outras plantas”, diz.
Sem abrir novas plantas, apenas aumentando a produção das existentes, o Brasil deve produzir 650 milhões de litros a mais na safra 2021/22, chegando a 3,3 bilhões de litros. No radar da Unem, há 23 projetos, que devem elevar a produção em 4,84 milhões de litros.
“Temos uma resposta de produção muito rápida, porque tem matéria prima, tecnologia e capacidade de investimento”, afirma.
Nolasco destaca que a ideia não é prejudicar o setor de milho. Pelo contrário, o etanol pode agregar valor, gerar empregos, impostos e riquezas dentro do Brasil.
“Estamos providenciando um estudo para mostrar quanto uma tonelada de milho exportada em grão representa em divisa e quanto uma tonelada de milho processada representa para a economia”, finaliza.